O caminho doloroso do vício
- Isabelle Giroldo e Nicole Santos
- 9 de jun. de 2016
- 7 min de leitura
A curto prazo a cocaína causa euforia que é seguida por intensa depressão, tensão e desejo por mais droga. Já a longo prazo aumenta o risco de doenças cardiovasculares, perda de peso, alucinações e disfunção sexual. Cerca de 6 milhões de brasileiros já provaram cocaína alguma vez na vida, entre eles, Felipe (nome fictício), 24 anos, de São Paulo, capital. Felipe começou com álcool quando tinha apenas 12 anos, acompanhando seus amigos no colégio Universitário. ”Se liga, com drogas, eu comecei com o álcool, álcool é a pior droga, comecei com 12/13 anos, mano. Eu só bebia por curiosidade, dai eu comecei assim para interagir socialmente, ta ligada?”
Uma pesquisa publicada em janeiro de 2016 no Journal of School Health, nos Estados Unidos, afirma que o álcool é a primeira substância consumida por pessoas que mais tarde apresentam problemas com o uso de drogas. Aos 14 anos começou a experimentar novas drogas. “Eu fumei maconha com a minha primeira namoradinha com 14 anos, ela era mais velha e já fumava e eu queria fumar também pra fumar socialmente, ta ligada? Tipo, eu gosto de ti e eu quero fazer o que você faz”. Muitas pessoas acreditam que maconha é a porta de entrada para outras drogas mais pesadas, mas isso não é verdade, maioria dos usuários de maconha nunca experimentou e nem vai experimentar outras drogas ilícitas. "Estudos indicam que mais da metade dos consumidores de maconha não usa outras drogas e faz uso apenas esporádico da erva", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo. "A maioria consome a droga só de vez em quando, e 90% acabam por abandoná-la um dia." Esses dados não excluem a possibilidade de um usuário de maconha se envolver com outras drogas, o que é o caso de Felipe. Ainda na adolescência começou a fazer novas amizades e resolveu se envolver com o tráfico de drogas pela quantidade de dinheiro que lhe proporcionaria, até então só fazia uso de maconha e álcool. ”Ai depois eu me envolvi com o tráfico de drogas porque da dinheiro, ta ligada? E ai como eu tinha acesso às drogas, eu usava”. Poucas horas de trabalho por semana, salário muito acima do oferecido no mercado formal e um plano de carreira bem definido. São essas as oportunidades dadas pelos traficantes a jovens de 14 a 17 anos, a maior parte sem formação educacional e carente de estrutura familiar – o que não é o caso de Felipe que viveu muito bem em uma família de classe média alta e estudou nos melhores colégios.
Com o acesso à cocaína, Felipe passou a consumir mais do que vender, chegando a usar cerca de 10 pinos em uma noite –* pino é um pequeno cartucho de plástico onde colocam a cocaína -. O consumo exagerado provocava delírios. Seu comportamento mudou de forma tão absurda que as pessoas próximas começaram a se preocupar e decidiram tomar uma atitude. Felipe acabou internado. Clínicas de Reabilitação para dependentes químicos muitas vezes são a solução e uma segunda chance. É um lugar que conta com total dedicação de profissionais altamente qualificados em suas especialidades, que oferecem o suporte necessário para a superação da dependência e para um recomeço. Cerca e três meses depois, Felipe saiu da clínica alegando ter se recuperado: “Mano, eu encarei como uma nova chance, uma chance real e você começa a dar um pouco mais de valor a seu corpo e a si mesmo”. Entretanto, Felipe não foi um dos sortudos que conseguiu superar essa “fase”. Semanas depois de largar a clínica, Felipe voltou a usar cocaína em quantidade maior. Voltou a ter alucinações e ficou paranoico. O relato da ex-namorada Carol (nome fictício) é assustador: “Eu estava conversando com um amigo quando o Fe me puxou para o carro e lá dentro começou a gritar comigo dizendo que eu estava o traindo na frente de todo mundo, que era um desrespeito. Dai me bateu e me queimou com o cigarro falando que eu merecia porque tinha sido puta. Ele voltou a cheirar ne, obvio.” Carol lembrou que Felipe já havia apresentado comportamentos agressivos, mas que esse dia foi o que a fez perceber que ele não queria mudar o jeito de viver. O tratamento em Clínicas de Reabilitação oferecem suporte para dependentes químicos e todo auxilio necessário, mas se o dependente não quer mudar o modo de vida, não há nada que o faça melhorar. Infelizmente, Felipe voltou ao mundo do tráfico e das drogas e nem sua família sabe se ainda há uma solução.
Nós fizemos esta entrevista há duas semanas e desde então não conseguimos mais contato com Felipe. infelizmente ele faz parte de uma triste estatística, mesmo com o avanço no tratamento para recuperação de viciados. A reabilitação de viciados no Brasil já chega a 35%. É a mesma média registrada nos Estados Unidos e na Europa. Ou seja, de 100 viciados que se tratam, 35 conseguem reestruturar a vida, num processo recheado de dores físicas, sofrimentos e preconceitos. Apesar dos avanços nos últimos anos, o restabelecimento de viciados ainda está longe do ideal.
A curto prazo a cocaína causa euforia que é seguida por intensa depressão, tensão e desejo por mais droga. Já a longo prazo aumenta o risco de doenças cardiovasculares, perda de peso, alucinações e disfunção sexual. Cerca de 6 milhões de brasileiros já provaram cocaína alguma vez na vida, entre eles, Felipe (nome fictício), 24 anos, de São Paulo, capital. Felipe começou com álcool quando tinha apenas 12 anos, acompanhando seus amigos no colégio Universitário. ”Se liga, com drogas, eu comecei com o álcool, álcool é a pior droga, comecei com 12/13 anos, mano. Eu só bebia por curiosidade, dai eu comecei assim para interagir socialmente, ta ligada?” Uma pesquisa publicada em janeiro de 2016 no Journal of School Health, nos Estados Unidos, afirma que o álcool é a primeira substância consumida por pessoas que mais tarde apresentam problemas com o uso de drogas. Aos 14 anos começou a experimentar novas drogas. “Eu fumei maconha com a minha primeira namoradinha com 14 anos, ela era mais velha e já fumava e eu queria fumar também pra fumar socialmente, ta ligada? Tipo, eu gosto de ti e eu quero fazer o que você faz”. Muitas pessoas acreditam que maconha é a porta de entrada para outras drogas mais pesadas, mas isso não é verdade, maioria dos usuários de maconha nunca experimentou e nem vai experimentar outras drogas ilícitas. "Estudos indicam que mais da metade dos consumidores de maconha não usa outras drogas e faz uso apenas esporádico da erva", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo. "A maioria consome a droga só de vez em quando, e 90% acabam por abandoná-la um dia." Esses dados não excluem a possibilidade de um usuário de maconha se envolver com outras drogas, o que é o caso de Felipe. Ainda na adolescência começou a fazer novas amizades e resolveu se envolver com o tráfico de drogas pela quantidade de dinheiro que lhe proporcionaria, até então só fazia uso de maconha e álcool. ”Ai depois eu me envolvi com o tráfico de drogas porque da dinheiro, ta ligada? E ai como eu tinha acesso às drogas, eu usava”. Poucas horas de trabalho por semana, salário muito acima do oferecido no mercado formal e um plano de carreira bem definido. São essas as oportunidades dadas pelos traficantes a jovens de 14 a 17 anos, a maior parte sem formação educacional e carente de estrutura familiar – o que não é o caso de Felipe que viveu muito bem em uma família de classe média alta e estudou nos melhores colégios. Com o acesso à cocaína, Felipe passou a consumir mais do que vender, chegando a usar cerca de 10 pinos em uma noite –* pino é um pequeno cartucho de plástico onde colocam a cocaína -. O consumo exagerado provocava delírios. Seu comportamento mudou de forma tão absurda que as pessoas próximas começaram a se preocupar e decidiram tomar uma atitude. Felipe acabou internado. Clínicas de Reabilitação para dependentes químicos muitas vezes são a solução e uma segunda chance. É um lugar que conta com total dedicação de profissionais altamente qualificados em suas especialidades, que oferecem o suporte necessário para a superação da dependência e para um recomeço. Cerca e três meses depois, Felipe saiu da clínica alegando ter se recuperado: “Mano, eu encarei como uma nova chance, uma chance real e você começa a dar um pouco mais de valor a seu corpo e a si mesmo”. Entretanto, Felipe não foi um dos sortudos que conseguiu superar essa “fase”. Semanas depois de largar a clínica, Felipe voltou a usar cocaína em quantidade maior. Voltou a ter alucinações e ficou paranoico. O relato da ex-namorada Carol (nome fictício) é assustador: “Eu estava conversando com um amigo quando o Fe me puxou para o carro e lá dentro começou a gritar comigo dizendo que eu estava o traindo na frente de todo mundo, que era um desrespeito. Dai me bateu e me queimou com o cigarro falando que eu merecia porque tinha sido puta. Ele voltou a cheirar ne, obvio.” Carol lembrou que Felipe já havia apresentado comportamentos agressivos, mas que esse dia foi o que a fez perceber que ele não queria mudar o jeito de viver. O tratamento em Clínicas de Reabilitação oferecem suporte para dependentes químicos e todo auxilio necessário, mas se o dependente não quer mudar o modo de vida, não há nada que o faça melhorar. Infelizmente, Felipe voltou ao mundo do tráfico e das drogas e nem sua família sabe se ainda há uma solução.
Nós fizemos esta entrevista há duas semanas e desde então não conseguimos mais contato com Felipe. infelizmente ele faz parte de uma triste estatística, mesmo com o avanço no tratamento para recuperação de viciados. A reabilitação de viciados no Brasil já chega a 35%. É a mesma média registrada nos Estados Unidos e na Europa. Ou seja, de 100 viciados que se tratam, 35 conseguem reestruturar a vida, num processo recheado de dores físicas, sofrimentos e preconceitos. Apesar dos avanços nos últimos anos, o restabelecimento de viciados ainda está longe do ideal.
O antes e o depois de pessoas que usaram drogas:




Efeitos da cocaína em partes do corpo:

Buraco no palato (céu da boca) devido a morte do tecido pelo uso excessivo de cocaína

A cocaína ao ser consumida penetra na corrente sanguínea, chegando ao cérebro. A droga se fixa nos neurônios, bloqueando as transmissões de impulsos nervosos, o que pode levar a hemorragia cerebral.
*Pinos de cocaína*

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