As lições de um atleta que superou a deficiência e os obstáculos da vida
- Lívia Chedid e Leonardo Baptista
- 8 de jun. de 2016
- 3 min de leitura

O Brasil vai ser sede do maior evento esportivo do planeta. Milhares de atletas de centenas de países estarão no Rio de Janeiro participando da 31° Olimpíada da era moderna. Mas um outro evento, que acontece logo depois, também irá reunir a elite do esporte mundial. Mas um gama de atletas que superaram muito mais do que marcas esportivas, enfrentaram obstáculos muito mais exigentes, suplantaram as diversidades da vida. Todos eles estarão reunidos na Paraolimpíada. Um evento que serve de estímulo para uma grande parte da população mundial que porta uma deficiência física. Só no brasil são cerca de 27% da população, segundo dados do IBGE. Um exemplo de superação física está aqui mesmo no UEL.
O Halterofilismo Paralímpico é um esporte que utiliza a força dos membros superiores, no intuito dos atletas competirem para levantar a maior carga de peso possível deitados de costas em um banco. Na Universidade Estadual de Londrina, o projeto Alteres envolve esse esporte que conta com atletas profissionais dispostos a participar de campeonatos, bater recordes e se superar a cada dia. Um desses é Marco Antônio, aposentado de 40 anos.
Marquinho, como gosta de ser chamado, a princípio hesitou o convite de seu amigo para entrar no projeto, porém depois de concordar em comparecer a um primeiro treino gostou tanto que hoje já frequenta a academia da UEL há quatro anos. Entre uma conversa e outra, ele comenta como as experiências adquiridas no projeto o ajudam a superar não somente as barreiras dos campeonatos regionais, mas também as de sua vida. O atleta destaca que não tinha contato com o levantamento de peso, contudo com seus treinamentos diários e com sua dedicação, o que antes eram 30kg no supino tornaram-se 120kg e com essa marca atingiu o título de vice-campeão regional de Fortaleza, na categoria de até 72kg.
O grande desempenho profissional de Marquinho o fez participar de diversos regionais, porém a falta de patrocínio muitas vezes o impede de fazer aquilo que ama. A falta de verba é uma de tantas dificuldades que ele enfrenta. Muitas vezes tem que pagar do próprio bolso para conseguir ir a suas competições. Mesmo assim, a realização pessoal é tão grande que todo esforço é compensado. Ele diz que “ Não queria ir pra casa, porque quando você chega em casa, os problemas chegam”. Por isso a importância do envolvimento em campeonatos, que o estimula a ser empenhado, ativo e independente.
’’Eu já tive vergonha de ser deficiente, de andar de cadeiras de rodas. Hoje em dia eu não ligo mais’’. A maneira como Marquinho leva a vida fascina qualquer um que não conhece o seu dia-a-dia. ‘’Não entra na minha mente que eu não posso, eu só acredito na hora que eu tento, mesmo que eu não consiga, eu tentei.’’ Depois de fazer fisioterapia durante 8 meses, ele voltou à sua rotina diária. Estar na cadeira de rodas não o impediu de se locomover e cozinhar sozinho, muito menos de interagir com as pessoas. Diferente de muitos outros deficientes, ele buscou, e conseguiu, manter a sua vida adaptada a uma nova realidade através do esporte.
Seu cotidiano é alimentado por comportamentos diversos daqueles que o olham pela rua. Uns ajudam, outros repelem, mas a maioria demonstra ter receio. Um episódio que aconteceu no Terminal Rodoviário é um bom exemplo disso. Depois de pedir ajuda a uma mulher, Marquinho conta que ela não sabia como deveria chamá-lo, ele então disse : ‘’me chama de aleja’’. A moça ficou incrédula afirmando que essa não seria a melhor forma de ‘’classificá-lo’’. Fica claro a abordagem das pessoas em tratar os deficientes como um impecilho na sociedade, mas isso não abala Marquinho, que defende que ser um deficiente não o difere dos demais. Portanto, o ‘’aleja’’ seria uma forma de quebrar esse paradigma social, já que ser aleijado não significa necessariamente uma ofensa para o atleta.
Todas essas críticas, pontos de vistas e qualidades formam o perfil de um homem que tem muito a ensinar. Sua determinação para encarar a vida após um grave acidente prova que as conquistas só são obtidas com muito esforço.
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