A longa e difícil trajetória de dona Marta, uma mulher cheia de histórias
- Maria Clara Ribeiro e Isabelle Ambiel
- 8 de jun. de 2016
- 2 min de leitura

Na década de 70, em plena ditadura militar, os territórios de Rondônia e Acre passaram por um processo de colonização pelo INCRA, que “doou” terras para pessoas interessadas. Isso despertou o interesse de Aprígio, na época esposo de Dona Marta.
“Terra era muito boa, tudo que se plantava, dava” relembra Marta, que nasceu em Nova Rezende, MG. A decisão de ir para o norte do país foi de Aprígio. Era o sonho dele ter uma criação de gado. Ele foi primeiro para construir o rancho em Pimenta Bueno, em Rondônia, em 1972. Dona Marta, junto com Mara, sua filha, ficou em São Paulo, na casa da irmã. Em fevereiro de 73, Aprígio foi buscar a família. A viagem durou 3 dias e 3 noites, cruzando o estado do Mato Grosso. Durante a viagem surgiram contratempos. A rodovia estava interditada em Cuiabá. Eles ficaram hospedados em um quarto “muito simples, com um banheiro horrível”. Havia um restaurante, um local pavoroso de se comer pois havia besouros “dinossauros em miniaturas com garras” que eram atraídos pela luz do lampião, e se você não prestasse atenção, pousavam na comida.
Foram morar no que hoje seria o centro da cidade de Pimenta Bueno. Tinham poucos vizinhos, com apenas um correio e uma pista de pouso para o teco-teco. Na cidade havia um armazém, mais conhecido como “boliche”, que era muito caro na época. Além de duas farmácias e um dentista. Não havia luz elétrica. A água era do poço. A casa de madeira era sustentada por toras de árvores da região - lembrava uma palafita, com espaço em baixo, onde ficavam os animais. O banheiro era separado da casa e as pessoas tomavam banho nos rios. “A minha distração durante o dia era ler”. Seu Aprígio bebia muito, ficava muito tempo fora de casa e o dinheiro era escasso, motivos pelo qual Dona Marta decidiu se separar e voltar para São Paulo na casa de sua irmã, Minda, visando um futuro melhor para sua filha. Um tempo depois as duas foram para Jacarezinho, no Paraná, e Mara se formou em Administração de Empresas. Em 1997 Dona Marta retornou a Pimenta Bueno para buscar seu ex-marido. Ele estava doente e queria ficar perto da família. Acabaram mudando para Londrina.
Hoje Dona Marta, com 71 anos de idade tem boas lembranças das pessoas que conheceu ao longo do tempo. “Sabe o que foi para mim? Foi uma lição de vida, as diferenças não importavam para esse pessoal simples, não importava de onde você vem, o quanto de dinheiro você tem, não importa nada. Importa você. ”
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